quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Marido Perfeito

Caminhava ao acaso junto ao Tejo. Ao longe ouviam-se vozes. Absorto andava, sem destino ou finalidade. Momentos preciosos partilhados consigo próprio. Apenas ele, tal qual ele, sem encenações, omissões e aparências.
Pensou nela, a mulher com quem há muitos anos partilhava o dia a dia. Como reagiria se lhe falasse abertamente de tudo o que lhe ia na alma? Será que entenderia que a amava de uma forma tranquila, calma, apesar de existir outra pessoa na sua vida? Compreenderia as suas angústias, os seus medos, a necessidade de viver e experimentar sensações diferentes? Aceitaria as viagens de trabalho que inventava apenas porque necessitava de fugir durante algum tempo dos dias iguais que o sufocavam? Imaginou-se a ser ele próprio, sem artifícios, a dizer-lhe que detestava o rolo de carne que ela fazia, mas que adorava a maneira como o olhava ao acordar...
Intenção breve... Ser ele próprio significaria perdê-la a ela e à vida que partilhavam... Tudo continuaria igual. Manteria a sua encenação, dando-lhe a conhecer apenas o conveniente... Afinal todos somos um pouco actores, personagens das estórias que vivemos e inventamos. Confusos, já nem sabemos onde está a fronteira entre a ficção e a realidade, na busca incessante de encontrar alguém (que não existe) com quem partilhar a alma.


3 comentários:

Anónimo disse...

Cristina, muitos parabéns. Excelentes
textos. Cá fico à espera dos próximos.

Wilke disse...

Bem...grande texto!

Parabens!

Bjos***

P-S disse...

Um texto bonito, uma grande reflexão...

Finalmente um blog!