domingo, 6 de junho de 2010

SILÊNCIO



Neste mundo há um tempo para tudo. Tempo para as palavras e também tempo de silêncio. Quando a vida consome a vontade de dizer conversamos em silêncio. Quando as palavras, tantas vezes repetidas, são apenas palavras prefiro o silêncio. Ao menos o silêncio não encobre, não omite nem ilude.

E falo-te agora do mais profundo dos silêncios de quem já não tem mais para te dizer. Só de pensar em articular sons que não alcanças esgota-me. E já nem te oiço… Não escuto esse teu papaguear de frases repetidas que falam dum amor de conto de fadas.

É nesse amor que tu acreditas, no amor dos poetas, da ilusão e do sonho. Um amor para viver em casas à beira mar ou em veleiros que dão a volta ao mundo.

A mim faz-me falta o amor dos pequenos gestos, o amor da rotina partilhada. O amor que sobrevive à luz da vela quando não há luar.

Nesse país de felicidade imaginária em que tu vives, onde não existe mais o eco da minha voz, apenas se ouve agora o barulho das tuas palavras.

Peço-te por isso para ficares calado e escutares este silêncio que nos separa. É um silêncio que fala!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O beijo



Esta noite sonhei contigo. Dançamos outra vez e trocamos aquele beijo, que durou segundos, mas que guardo no meu coração há muitos anos.


E hoje, quando já nem consigo juntar com rigor os traços do teu rosto, apercebo-me que não te disse uma única vez que te amava.

Não sabia como dizer-te…

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Saudades



"Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca o foram."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Queria



Queria ir ao sol contigo, amor.
Mas tu não me perguntas.
Não imaginas o meu desejo de ir ao sol,
É forte, forte!
E eu não to digo amor.
E tu pensas que eu quero, gosto
De estar na terra.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A cómoda





Na entrada da casa havia uma cómoda antiga onde ela guardava as recordações em gavetas que não voltava a abrir.
Era uma cómoda bonita mas completamente desajustada para o local.

Na realidade, não saberia explicar porque ia guardando aquelas lembranças que não mereciam ser recordadas. Mas teima em acomodá-las nas gavetas que não reabre e nunca fecha à chave.

E aquela cómoda, que não se enquadra no resto do mobiliário, foi ficando, tornou-se parte da casa e é hoje um túmulo de sonhos que a impede de voar.