sábado, 7 de janeiro de 2012

QUERER



No novo ano que agora se inicia recomendo-te vivamente que continues sentado, de preferência com os braços cruzados.

Pensa intensamente em tudo o que  desejas verdadeiramente  com  a esperança de um deus qualquer telepaticamente,  adivinhar o que tu queres.

De quando em vez podes manifestar-te em voz alta, se possível usando palavras bonitas, capazes de convencerem os que te escutam do quão forte é o teu querer.

Com sorte, há-de despencar do céu uma caixa envolvida em papel de seda, enfeitada com um enorme laço vermelho e contendo lá dentro tudo o que tu apregoas querer.

Se por muito azar a caixa nunca aparecer podes sempre culpar a vida, as circunstâncias ou a minha pessoa...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Coisas de Mulher


Falas-me o que quero ouvir e, quando acredito, assusta-me que seja assim porque lá no fundo sei que eu não o quero de verdade. Basta-me que tu o queiras!

Mas, quando duvido de ti, apesar de te sorrir, fico zangada e torturo-te devagarinho até gritares vinte vezes que queres muito.

E, se por um instante sinto que o não queres, ai de mim! Sou eu que o quero desesperadamente!

domingo, 6 de junho de 2010

SILÊNCIO



Neste mundo há um tempo para tudo. Tempo para as palavras e também tempo de silêncio. Quando a vida consome a vontade de dizer conversamos em silêncio. Quando as palavras, tantas vezes repetidas, são apenas palavras prefiro o silêncio. Ao menos o silêncio não encobre, não omite nem ilude.

E falo-te agora do mais profundo dos silêncios de quem já não tem mais para te dizer. Só de pensar em articular sons que não alcanças esgota-me. E já nem te oiço… Não escuto esse teu papaguear de frases repetidas que falam dum amor de conto de fadas.

É nesse amor que tu acreditas, no amor dos poetas, da ilusão e do sonho. Um amor para viver em casas à beira mar ou em veleiros que dão a volta ao mundo.

A mim faz-me falta o amor dos pequenos gestos, o amor da rotina partilhada. O amor que sobrevive à luz da vela quando não há luar.

Nesse país de felicidade imaginária em que tu vives, onde não existe mais o eco da minha voz, apenas se ouve agora o barulho das tuas palavras.

Peço-te por isso para ficares calado e escutares este silêncio que nos separa. É um silêncio que fala!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O beijo



Esta noite sonhei contigo. Dançamos outra vez e trocamos aquele beijo, que durou segundos, mas que guardo no meu coração há muitos anos.


E hoje, quando já nem consigo juntar com rigor os traços do teu rosto, apercebo-me que não te disse uma única vez que te amava.

Não sabia como dizer-te…

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Saudades



"Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca o foram."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Queria



Queria ir ao sol contigo, amor.
Mas tu não me perguntas.
Não imaginas o meu desejo de ir ao sol,
É forte, forte!
E eu não to digo amor.
E tu pensas que eu quero, gosto
De estar na terra.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A cómoda





Na entrada da casa havia uma cómoda antiga onde ela guardava as recordações em gavetas que não voltava a abrir.
Era uma cómoda bonita mas completamente desajustada para o local.

Na realidade, não saberia explicar porque ia guardando aquelas lembranças que não mereciam ser recordadas. Mas teima em acomodá-las nas gavetas que não reabre e nunca fecha à chave.

E aquela cómoda, que não se enquadra no resto do mobiliário, foi ficando, tornou-se parte da casa e é hoje um túmulo de sonhos que a impede de voar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Encruzilhada


Na sua frente duas estradas.
Uma moderna, onde não faltam semáforos, passeios bem cuidados para os peões e algumas árvores. Em suma, uma estrada igual à que tem calcorreado nos últimos anos. Segura, mas monótona, com os mesmos bancos onde amiúde se esconde para, com a cabeça entre as mão, verter as lágrimas da angústia de quem palmilhando caminhos tão aprazíveis não sente prazer ou alegria. Já percorreu quilómetros e mais quilómetros sem nunca sentir que aquela era a sua estrada, algures lá atrás, nem sabe bem onde, deixou ficar perdida uma amiga chamada Felicidade.
É certo que tem encontrado alguns recantos bonitos com fontes de água fresca e jardins floridos...
Do outro lado uma estrada que desconhece, apenas lhe vê o início... Circundada por árvores frondosas que quase não deixam ver os campos que a ladeiam salpicados por flores campestres. O piso não é tão cuidado como o da outra, mas tem o encanto do diferente. Sentada numa pedra vislumbra o que parece ser a sua amiga Felicidade, será mesmo ela? Nada mais consegue espreitar...tudo o resto é incógnita.
Sente uma vontade louca de escolher de imediato aquele trajecto...Mas tem receio. O que está para lá do que não consegue ver? Aquela pessoa que vislumbrou será mesmo a amiga há tanto perdida? Conseguirá ali encontrar iguais fontes de água fresca? Aqueles caminhos não serão frequentados por malfeitores?
Sabe que optar por uma significa perder a outra. Não sabe que fazer...Por um lado receia afastar-se daquele trilho entediante mas seguro que conhece ao pormenor, por outro necessita imperiosamente de voltar a sentir que ainda está vivo. Tem consciência de que, se demorar muito a sua escolha, as pernas ficarão demasiado velhas e pesadas e recusar-se-ão a levá-lo para outros locais.
De um lado os vizinhos, amigos e conhecidos acenam-lhe enquanto gritam "continua connosco", do outro sorridente lá está, (será?), a Felicidade....
Só então percebe que chegou a hora de deixar de fazer o que os outros esperam que faça. Sempre pautou a sua vida pelo correcto, sempre praticou o certo para a sociedade. E por si? Alguma vez fez algo verdadeiramente importante, só por si, sem pensar em mais ninguém? Chegara a hora de ser egoísta caminharia em busca dessa miragem real, procuraria essa Felicidade, sentia a falta dos seus braços macios e da boca com sabor a morango.
Afinal o que tinha a perder? No pior dos cenários a nova estrada também teria certamente um recanto onde, sentado, pudesse esconder-se com a cabeça entre as mãos e verter lágrimas de angústia.

sábado, 1 de agosto de 2009

Mau Feitio

Gosto de pessoas com mau feitio. Dessas que nos olham nos olhos e nos dizem o que verdadeiramente pensam e sentem.
Cansam-me as palavras diplomáticas, os sorrisos feitos de plástico e as atitudes de circunstância que nos obrigam a tentar descobrir o seu real significado.
Não me assustam as discussões, com lágrimas à mistura, em que nada fica por dizer.
Sei que normalmente quem tem mau feitio também tem mais afecto para dar. E, por não ter medo de dizer, também não se sente fraco ao perdoar.
Aprendi a sorrir sem ter vontade, a fingir a simpatia que não sinto e a demonstrar interesse por assuntos que me são indiferentes. Mas a verdade é que estou cansada do papel de actriz, nesta peça de teatro que vou escrevendo diariamente.

E, nesta solidão partilhada em que transformei a minha vida, sinto falta da sinceridade mesmo que isso implique, de vez em quando, uma discussão genuína, dessas que terminam com um forte abraço quando não resta mais nada para dizer ou perdoar.

Hoje, apeteceu-me reler Vinicius de Moraes e com ele dizer:
“Procura-se um amigo!
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.”

domingo, 28 de junho de 2009

À Deriva




Calei a minha boca com a mordaça das palavras que não me apetece pronunciar.

Coloco todo o algodão que consigo juntar, em redor do meu coração. Assim não sinto. Não sou feliz mas também não sofro.

Mergulho no trabalho até à exaustão. Um cérebro cansado fica anestesiado.

E sigo em fente!

Reaprendo a gostar dos raios de Sol e da brisa que me desmancha o cabelo, enquanto caminho junto ao mar.

Ando por aqui. Sigo por ali e sei que um dia hei-de encontrar um caminho. Mas tem de ser um caminho simples, sem sobressaltos ou grandes fantasias. Não tenho pressa de o encontrar.


Resignei-me!

sábado, 13 de junho de 2009

Voltei

Voltei, apenas para vos dizer que ainda estou por aqui.
Desiludida, com vontade de desistir, mas de pé!
Precisei do silêncio e de conversar comigo. Tentei tomar decisões e acabei a acatar o que decidiram.
Estou sem rumo, mas conheço o caminho.
Quase perdi a voz, mas o silêncio também fala!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ao Jaime


Sempre que me lembro do Jaime vejo-o com a camisola de lã azul, tricotada à mão, que o acompanhou durante uma boa parte da adolescência. Recordo todos os pormenores do seu rosto cuja fealdade nós, as raparigas, ignorávamos ao fixar-lhe os olhos de um azul profundo e enfeitiçador.
O Jaime, apesar de mais velho, era o meu confidente, chorava com as minhas tristezas e vibrava com os meus triunfos. Devorava tudo o que eu escrevia, gravava músicas dos Eagles, que depois me emprestava em troca de uma conversa que habitualmente se prolongava durante horas. Falávamos de tudo, partilhávamos ideias, discutíamos opiniões para, no final, me deixar levar um caderno com as poesias que escrevia em segredo e que eu lia antes de adormecer. No grupo de teatro amador era ele quem convencia o encenador a dar-me um bom papel.
Sempre soube que o Jaime sentia por mim um amor de que não falava porque sabia não ser correspondido. Ele era assim, olhava-me e adivinhava o que eu sentia ou pensava. “- Através dos teus olhos consigo ler o que te vai na alma – dizia."
No aniversário dos meus quinze anos ofereceu-me um livro, “Últimos Cadernos” de Camus, que guardo entre os meus tesouros mais preciosos.
Mais tarde, seguimos caminhos distintos em cidades diferentes. Soube da sua morte, num acidente de automóvel, meses depois de ter ocorrido. Chorei por ele e pela perda da minha meninice inconsciente e ingénua.
Ainda hoje sinto uma saudade imensa do Jaime. Releio o livro que me ofereceu e, na minha ilusão, é como se voltássemos a estar juntos de novo retornados à nossa juventude.
Só agora me apercebo do quanto ele influenciou a minha maneira de ser e o meu modo de encarar o mundo, o Jaime era especial…

sábado, 31 de janeiro de 2009

Fernão




- VAI FERNÃO, VOA EM DIRECÇÃO AO AZUL, ATÉ ONDE A BRISA DO MAR TE LEVAR. QUEM NÃO PERSEGUE O AZUL NUNCA ALCANÇA OS SONHOS...


Despediu-se por sms com esta frase que ele julgou tirada de um livro.
Volvido tanto tempo ao perceber que as palavras são dela, e não de Richard Bach, já não sabe se afinal ela quis dizer-lhe adeus ou pedir-lhe para ficar…

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Almas Gémeas

Apaixonaram-se com a primeira troca de olhares numa idade em que a vida ainda não os tinha ensinado a demonstrarem os sentimentos e a jogarem com as atitudes.
Partilharam o primeiro beijo de ambos e viveram em levitação sem sentirem necessidade de conversas profundas. Olharem-se e saberem que se reencontrariam no final do dia, depois da escola, parecia-lhes suficiente.
Amando-se nunca pronunciaram a palavra amo-te, preferiam timidamente dizer “gosto de ti”.
Se lhes perguntassem o que esperavam daquele amor, não saberiam responder. O presente bastava-lhes.
Não falaram sobre o arrufo que os separou. Ele, teve vergonha de admitir que sentira ciúmes do amigo com quem a encontrara à conversa num intervalo. Ela, era demasiado ingénua para entender, sem palavras, que a reacção brusca dele se devia a um sentimento exacerbado. Quando, no dia seguinte ele se aproximou fingindo que nada sucedera, ela ostentou-lhe indiferença, por achar que devia ser assim e não porque a sentisse.
Continuaram a ir com os amigos ao cinema, sentavam-se ao lado um do outro, mas não voltaram a dar as mãos durante o filme.
Ela, por orgulho não falava, ele ficava em silêncio por não ter coragem para dizer-lhe.
Um dia ela teve de deixar a cidade. Foi por terceiros que soube do casamento, dos desaires profissionais e do divórcio dele. Mas nunca, durante todos esses anos, deixou de pensar nele ou esqueceu a sua data de aniversário.
Hoje, quando subia o Chiado, chocou com ele. Olharam-se nos olhos e sentiram-se almas gémeas. Ela, não reparou que estava mais gordo e que os cabelos começavam a embranquecer. Ele, achou-a linda e soube que seria capaz de amá-la de novo. Falaram de banalidades por não saberem do que conversar.
Na despedida ele disse-lhe: - Sabes… naquele dia… Quando disse que merecias uma bofetada , não estava a falar a sério… Tive ciúmes…
-Eu sei… - respondeu-lhe.
Ele seguiu apressado em direcção ao Metro. Ela foi para a FNAC onde o marido a esperava.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Resignação


Há dias em que um céu de chumbo desaba sobre nós. É então que o impossível acontece desfazendo as quimeras cuidadosamente moldadas em argila feita de ilusão e crença.
Os sonhos são pulverizados em pequeninas partículas que nem a esperança mais persistente conseguirá voltar a unir numa forma coerente. E, enquanto esse pó paira no ar, pedimos a um deus qualquer para fazer com que o tempo acelere o seu ritmo e mitigue a dor que nos aflige. Mas, os minutos pegajosos arrastam-se numa lentidão exasperante permitindo o pulsar constante dessa mágoa que queremos arredar para longe.
Procuramos refúgio no choro convulsivo interrompido pelos gritos mudos do que deveríamos ter dito. A chuva cai e o ribombar do trovão persegue a luminosidade do relâmpago, é a tempestade que se apodera da nossa vida.
Buscamos companhia e planeamos viagens, mas não há palavras de amigos ou distância que consigam aplacar o desespero que se instala.
Lá fora o mundo implacável continua a girar indiferente ao drama que nos tomou conta da alma. Todos seguem em frente, não param para nos deixarem consertar os sentimentos quebrados.
Impotente para mudar o que quer que seja, também sigo em frente, à deriva, até que a resignação chegue...

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009


"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...
Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!! "
Carlos Drummond de Andrade


Desejo a todos os que espreitam este blog um FELIZ 2009.
CrisTina

domingo, 14 de dezembro de 2008

Amores

O nosso amor começou por ser um amor verdadeiro sem conta, peso e medida. Sem princípio nem fim. Um desses amores em que fechas os olhos e te sentes no céu, porque pensas que é o tal que te vai acompanhar até ao fim da vida.
Estranhamente por esse amor vivi no purgatório sem entender porque me provocava angústia, dor e sofrimento. Sem perceber porque magoava obrigando-me a criar defesas contra ele.
Percebi agora que o nosso amor se transformou num amor sem planos, daqueles que, por não terem planos, têm como destino inevitável a morte prematura. Compreendi que toda a minha angústia se traduzia no sentir o luto de uma relação e chorava antecipadamente a tua perda tendo-te ainda. E chorei, chorei por nós!
Nos amores verdadeiros temos a sensação, que até pode ser ilusória, de que não vão terminar nunca e de que somos o centro do mundo da outra pessoa. Nos amores sem planos tens a noção de que os sentimentos são finitos.
Cansada desisti de lutar por mais tempo na tua vida, recusei encaixar-me no espaço diminuto que me ofereces. Afinal, o teu amor foi sempre um amor sem planos que traduzias em palavras como se de amor verdadeiro se tratasse.
Mas não é fácil meu querido… É certo que estamos sempre a tempo de aprender a amar com a cabeça e a sufocar o coração. Mas eu não gosto de sentir assim e se aceitei fazê-lo foi porque o amor verdadeiro, aquele do início, era forte e não quis morrer, preferiu transformar-se. Era um amor tão grande que sufocava no espaço reduzido a que o confinaste na tua vida.
É por isso meu querido que continuo a amar-te, não da forma que eu quero mas da única maneira que me deixas fazê-lo.
Não posso porém deixar de sentir um misto de raiva e revolta pela passividade e inércia com que me deixas ir.
E um dia, mesmo sem querer, eu vou ter partir…

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mulher

Depois de semanas em silêncio, telefonas para dizeres que precisamos de conversar. Espero ouvir finalmente a tua voz murmurar perdão.
Recebes-me com morangos e Moet & Chandon. Apertas-me contra ti, enquanto os teus lábios procuram os meus com a urgência de quem quer recuperar os beijos que ficaram por dar. Sinto as tuas mãos percorrerem o meu corpo e, já sem forças para rasgar a teia em que me envolves, deixo-te levar-me. Em silêncio, arrancas-me a roupa e entras em mim como se o fizesses pela primeira vez. Sem dizeres desculpa-me, morremos afogados num mar de sensações.
Tu, pensas que acabaste de apagar, com uma borracha, todos os erros que julgas ter escrito com lápis de carvão. Eu, finjo que perdi a chave da gaveta da memória onde tranquei as tuas palavras tatuadas com tinta da china.
Torno-me cúmplice do teu silêncio quando visto o meu rosto com um sorriso postiço. Mas não, não te perdoei… Tens de dizer a palavra perdão. Eu sou mulher!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Desilusão



Hoje, rasguei-te as vestes tecidas pela minha fantasia e vi-te tal qual como és, no pedestal de orgulho em que te colocas, na arrogância que ostentas, na vitimização com que te escudas.
Hoje, estive frente a frente com a velhice mental das ideias e preconceitos que te habitam, disfarces perfeitos para a cobardia que pretendes oculta.
Hoje, percebi que foste apenas uma ilusão, alimentada por sonhos deliberadamente prolongados pelo meu inconsciente, com a insensatez de quem se recusa a acreditar no óbvio.
Hoje, sei o quão ocas e estéreis foram as palavras apaixonadas das quais apenas resta o eco de promessas logo moribundas ao nascerem.
Hoje, soube que no conforto da tua insensibilidade nem sequer tentaste ler-me ou penetrar na minha alma que, um dia, sonhou fundir-se com a tua.
Hoje, do fogo restam cinzas e na memória fica apenas o retrato do mais perfeito egoísmo que se pode contemplar.
Hoje, sei que o que nos separa não é a vida. És tu!

domingo, 2 de novembro de 2008

Eternamente



Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido.
Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.

Miguel Sousa Tavares

(No dia 2 de Novembro, dedico as palavras de M.S.T. aos que amei com toda a força do meu coração e que a morte levou. Acredito que vive um pouco Deles no brilho das estrelas que iluminam as minhas noites)