sábado, 11 de outubro de 2008

A Conversa


Laura e João

Sei que continuaremos a adiar indefenidamente a nossa conversa. Como sempre, terás questões para resolver mais importantes do que planear e decidir o nosso futuro. Desde as doenças dos filhos, as verdadeiras e as inventadas, os problemas com a sogra, a infelicidade do cão e a necessidade de ires preparando a tua mulher para a separação, qualquer pretexto serve para ires adiando o que em consciência sabes que nunca irá acontecer.
O curioso João, é que tu acreditas mesmo nos pretextos que vais criando para que tudo continue comodamente igual!
Hoje enquanto estás nessa festa de família, que cuidadosamente escondeste de mim, no papel de anfitrião e marido perfeitos, não sei se te amo ou se te odeio...
Apaixonei-me pela ideia que o meu imaginário criou de ti quando te conheci. A imagem de um homem forte e decidido, capaz de lutar por um grande amor. Mas já percebi que não és forte e que afinal o teu amor não era assim tão grande. Também o casamento que descrevias como um inferno é seguramente uma situação suportável. Na realidade não sei quem és! Não sei no que devo acreditar de tudo o que me dizes...
Estranho mesmo é como nos fomos acomodando a esta vida de mentira e permitimos que o tempo passe sem que nada mude… continuaremos a trocar sms decalcados de poetas e escritores românticos, inventaremos sorrisos e palavras enfeitadas com promessas que não são para cumprir. Nada mudará!
E, enquanto o meu marido me abraça, sei que também eu continuarei a jogar “aos casamentos felizes”!

10 comentários:

Wilke disse...

Infelizmente...é o caso comum dos ''casamentos felizes'' que vemos...

Luís Alvarenga disse...

"Apaixonei-me pela ideia que o meu imaginário criou de ti quando te conheci. "
Cristina: há pessoas que vivem o imaginário como se da realidade se tratasse! Por vezes (ou quase sempre), isso é um jogo perigoso.
Um excelente fds.

P.S - Sensibilizado pela ligação ao meu blog! Obrigado

CrisTina disse...

Obrigada por continuares por aí Wilke!

CrisTina disse...

A vida não é só, mas também tem uma dose de imaginário Frank.
Gosto do teu Blog, por isso a ligação.

Renascido disse...

Os teus textos levam-nos a pensar sobre várias situações da vida.
Achas que se pode falar em amor quando nada se faz e tudo continua igual?
Parabéns pela tua escrita.

Walter disse...

Acho que esses casamentos felizes são tão somente hábitos e pouca coragem para tirar uma aliança e decidir procurar a felicidade, a verdadeira, não aquela que é feita de aparências!
obrigado pela referência ao meu blog

Bartolomeu disse...

Interessantíssimas reflexões vim encontrar nestas páginas!
Pergunto, como se me questionasse a mim mesmo: Será que os casamentos seriam mesmo felizes, ou seja, será que cada um, que casado com outro (não, não me refiro a casamentos entre homosexuais, esses ainda não se realizam)poderia encontrar a felicidade se o objectivo superior do casamento fosse o relacionamento, a partilha, a presença, sem amarras, sem cinismos?
Talvez os casamentos não resultem tão felizes quanto o desejado por lhe estar implícita a obrigação moral e social de ambos observarem regras e comportamentos que até podem ser incompatíveis nas suas pessoas.
Senão vejamos: observe-se a nossa vida social. Poderemos ser muitíssimo felizes com alguem com quem não casámos, mas que aprecia e possui o mesmo gosto musical. Contudo, o aspecto inverso relativamente à pessoa com quem se casou, pode ser um pequeno motivo de insatisfação. Os mesmos pequenos "desacertos" podem surgir em relação a outros pequenos "nadas", que juntos, resultam num grande "tudo".
No caso dos homens, manter uma relação com alguem fora do casamento, tem geralmente como motivo de base, o sexo. Contudo, essas relações geram inevitávelmente outros tipos de dependências que, se chegam a adquirir peso, resultam mesmo na mudança da situação original.

Gonçalo Rosa disse...

Escrevi há pouco um texto, no meu blog, que casa bem com este teu texto. Espero que te(vos) ajude a, un dia, abrirem as postas das gaiolas e fazerem os pássaros voarem... ou pelo menos, a fazerem outra opção, tranquilamente ;)

Cá vai...

Vida Velha, Vida Nova

Há uns meses atrás, em viagem pela América Central, deliciei-me com uma notícia emitida numa televisão panamenha. Uma senhora, com 92 anos de idade decidira divorciar-se do seu marido de 88 anos. Entrevistada, a velha senhora esclareceu que o motivo era simples. Entendia que aquela relação amorosa havia terminado e que, perante isso, o melhor seria cada um seguir o seu caminho, abrindo portas para uma nova vida e, quem sabe, um novo amor.

Interrogada sobre se não seria demasiado tarde para tais aventuras, a idosa respondeu que não. Não sabia quanto tempo mais, Deus lhe concediria, mas entendia que, fosse o que fosse, o deveria disfrutar o melhor que podia até ao fim.

Muitos sorriam e riam perante o inusitado da situação – “Nesta idade? A velhota passou-se” – mas, na verdade, aquela simpática senhora acabava de dar uma lição de vida, para os que estavam dispostos a recebe-la. A sua disponibilidade para a vida no seu máximo explendor e a aparente indiferença a preconceitos e banhos culturais, deveria envergonhar aqueles que, muito mais cedo, “entregaram os pontos”. Os que passam pela vida, sem a viver. Os que, por opção, pouco mais fazem que sobreviver, aceitando o destino, a sua sorte, com resignação e comodismo. Enfim, é a vida.

CrisTina disse...

´Bartolomeu, obrigada pela visita!
Quando estamos numa relação por querer estar, por termos prazer em estar e não por sermos "obrigados", deixa-nos mais libertos para vivermos em plenitude os nossos sentimentos. Em consequência damos mais de nós...

CrisTina disse...

Pois é Gonçalo não há limite de idade para mudar e lutar pela felicidade.
Grande lição de vida...
Volta sempre.