sábado, 4 de outubro de 2008

Sem Perdão

Espero o que não espero, nem sol, nem chuva. Apenas um vento gelado agita os dias que eu queria quentes. Onde estás? Por onde andas? Sol quente do meu Verão tardio, já Outono, com folhas caídas e dias cinzentos. Gosto de sentir as tuas carícias tépidas enquanto me enrolo em recordações e sonhos agora irrealizáveis.
Olhos de carvão, bonitos... Sim, ainda lembro os teus olhos negros humedecidos pelas lágrimas enquanto me miram e murmuras:"- Não me despeço! Não me vou despedir! Não te vou beijar aqui ou não poderei partir."
E vejo-te a ir, na escada rolante do Colombo. Partes uma e outra vez, tantas quantas aquela cena me vem à memória. E eu fico parada, continuo parada. Não corri para ti. Deixei-te ir, a ti e à mala que trazias na bagageira, preparado para ficares comigo.Tive medo!Perdi-te quando te deixei ir.
Desde então senti que te afastavas, aos poucos porque doía, e íamos ficando cada vez mais distantes. Como se as centenas de quilómetros que nos separavam se fossem transformando em milhares.Durante muito tempo nada fazia sentido. Sem ti não vi o sol nem a lua. Recusei o mar, os sorrisos e a alegria. Sem ti procurava, procurava-te, mas já não estavas… Aquela escada rolante levou-te de mim para longe e eu empurrei-te. Mesmo quando senti que fugias, mesmo quando não encontrava sentido para os meus dias, mesmo quando a dor da saudade me sufocava. Empurrava-te de mim, com medo do futuro que eu queria perfeito.
Mas o meu futuro, agora presente, não é perfeito, e não vivi o meu presente já passado. E hoje, vivo aos solavancos, na procura de um sentir igual que não encontro, que não existe. Não te tenho! Infelizes ambos, sem o futuro perfeito pela frente.E sufoco a culpa, a minha culpa, porque deixei partir numa escada rolante a única pessoa com quem partilhei a alma.

4 comentários:

Luís Alvarenga disse...

De passagem, por acaso, na leitura do seu (belo) texto, ocorreu-me: a culpa não reside no sofrimento, mas no sofrimento sem razão, sem causas, no sofrimento desnecessário e perdido.

Wilke disse...

Bem...fiquei sem comentários pos mais que queira comentar!

Que sentimentos exprimes nestas palavras!

Amor verdadeiro só há um...mas todo o verdadeiro amor se vai...todo...não há um só que fique, perdure, enriqueça sem ir!

A própria vida assim o é!

beijinhos

CrisTina disse...

A questão Frank, é que nós nem sempre conseguimos concluir se o sofrimento é/foi desnecessário. O sofrimento por vezes evita sofrimentos maiores. Como ter certezas no momento de decidir?!

P-S disse...

Cristina, fiquei sem palavras ao ler este seu texto, fantastico sem duvida. É bem verdade que é no sofrimento que se exlatam as maiores qualidades pelo menos artisticamente, este texto assim o afirma!
Mas para mim, o importante é não desistir...

Um beijo